segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A decandência do Anglicanismo


Anglicanos ontem

Anglicanos hoje
[...]
 
Os anglicanos acham-se herdeiros dos católicos ingleses que já existiam desde Santo Agostinho de Cantuária, mas na verdade, como denominação, surgem apenas na Reforma.
 

Os anglicanos costumam considerar-se "católicos anglicanos", em contraposição a nós, "católicos romanos". Isso porque, de um lado, o termo "anglicano" significa, literalmente, "inglês"; por outro, crêem que a Reforma na Inglaterra tenha sido apenas um cisma, não uma heresia. Daí considerarem (especialmente, a High Church) que mantêm a Sucessão Apostólica.

São católicos? Evidente que não! Aliás, sequer são igreja no sentido estrito do termo, visto lhes faltar a Sucessão Apostólica. São, pois, protestantes, ainda que em "vestes católicas". Sua teologia é protestante (ainda que com resquícios católicos), e sua liturgia é bem próxima da católica (embora INEFICAZ e NULA sua "missa", pois lhes falta Sucessão Apostólica). Em algumas igrejas mais anglo-católicas, o culto é belíssimo, com cantos do Uso de Sarum (antigo rito inglês anterior a Trento), trechos em latim, muitas vestes lindas, incenso etc.

São protestantes em com certos resquícios católicos. Mas tais resquícios, frise-se, NÃO os torna católicos.
 
Nem sequer estão em cisma (como os "ortodoxos"), porém em heresia. Apesar de chamarem seus líderes de Bispos, falta-lhes o essencial: a Sucessão Apostólica.

A Sucessão Apostólica é a linha que liga um Bispo validamente sagrado a um dos Apostólos. Tal linha se dá através do sacramento da Ordem em seu máximo grau, o episcopado.

Ora, todo sacramento tem matéria, forma, ministro e intenção. Para que a Igreja Anglicana, pois, tenha um legítimo sacramento da Ordem, e, portanto, um verdadeiro episcopado, para inserir-se na Sucessão Apostólica, precisamos analisar o rito pelo qual os anglicanos pretendem conferir as ordenações.

É possível que nos primórdios, a Igreja Anglicana, que era apenas um cisma, conservasse a Sucessão Apostólica e a tenha passado adiante. Possuía verdadeiros Bispos, e eles sagraram outros segundo o rito romano levemente alterado para receber fórmulas do antigo rito celta (ou uso de Sarum). Nesse rito, estavam previstas a forma e a matéria autênticas, e o ministro era válido (um Bispo), bem como havia ainda a intenção de, pela Ordem, dar sacerdotes à Igreja. Era apenas um cisma, não uma heresia.

Com o novo Ordinale do rei Eduardo, composto por Thomas Cranmer, as coisas se modificaram. Ainda existiam Bispos válidos (em cisma, ilícitos, mas válidos), e talvez alguns até tivessem a intenção de dar sacerdotes pela Ordem. Todavia, não estavam mais previstas, no novo rito, a forma e a matéria válidas. Mais ainda: a própria intenção de, pela Ordem, conferir o sacerdócio, não estava presente em todos os Bispos ordenantes, de vez que a heresia protestante dominava boa parte da Igreja Anglicana da época.

Assim, havia dois grupos: o dos Bispos que tinham mentalidade católica e o dos que tinham mentalidade protestante. Os Bispos "católicos" não ordenavam validamente por defeito de forma e de matéria. Os Bispos "protestantes" não ordenavam validamente por defeito de forma, de matéria e também de intenção.
 
Portanto, dessa geração de Bispos válidos, a Sucessão Apostólica não passou. Os Bispos válidos não puderam conferir verdadeiro sacerdócio aos seus ordenandos. A linha da Sucessão se perdeu.
 
 
Com a morte do último Bispo válido da Igreja Anglicana, ela perdeu a Sucessão Apostólica.

Em conseqüência, a partir de então, nem mais Bispos válidos tiveram. E, assim, além dos defeitos de forma, matéria e intenção, outro se lhe juntou: o de ministro.

Com o tempo, algumas reformas foram feitas na liturgia anglicana e alguns defeitos de forma e de matéria foram supridos em certos livros litúrgicos. Contudo, resta ainda o problema da intenção e do ministro, de vez que grande parte do anglicanismo não acredita no sacerdócio hierárquico (e, portanto, não tem intenção de ordenar sacerdotes, mas meros pregadores, ministros religiosos, administradores de sacramentos) e também porque perderam o episcopado.

Enfim, não há Sucessão Apostólica na Igreja Anglicana por defeito de forma (mesmo que alguns usem ritos nos quais ela é suprida, isso não é maioria), de matéria (idem), de intenção (ainda que alguns ramos anglo-católicos da High Church tenham verdadeira intenção de dar sacerdotes, essa crença não é geral, até porque os 39 Artigos de Religião têm uma compreensão distinta), e de ministro (ainda que tivessem válida forma, válida matéria, e válida intenção, faltam-lhes válidos Bispos para "passar adiante" a Sucessão).

Não foi outra a conclusão da Bula Apostolicae Curae, de Leão XIII:

"Por isto, e aderindo estritamente, neste caso, aos decretos dos pontífices, nossos predecessores, e confirmando-os mais completamente, e, como o foi, renovando-os por nossa autoridade, de nossa própria iniciativa e de conhecimento próprio, pornunciamos e declaramos que as ordenações conduzidas de acordo com o rito Anglicano foram, e são, absolutamente nulas e totalmente inválidas." (Papa Leão XIII, Bula Apostolicae Cureae, 36)
http://www.papalencyclicals.net/Leo13/l13curae.htm
A Igreja Anglicana oficial, no Brasil, é a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, em comunhão com Cantuária e com todas as Igrejas Anglicanas oficiais do mundo.

Além da Comunhão Anglicana, que reconhece a primazia de honra da Sé de Cantuária (sé primacial da Igreja da Inglaterra - anglicana), existem outras comunhões: a Comunhão Anglicana Independente, o Movimento Anglicano Continuante etc. São igrejas que se separaram de Cantuária e das respectivas Igrejas Anglicanas oficiais por entenderem-nas heterodoxas ou com práticas contrárias à sua doutrina. São o cisma do cisma, a separação dos já hereges.

Entre essas anglicanas "separadas", há a Igreja Anglicana Continuante, a Igreja Anglicana Católica, a Igreja Anglicana Livre, a Igreja Anglicana Ortodoxa, algumas delas com presença no Brasil.

Lembro, entretanto, que a o termo "católica" é usado não só pela Igreja Anglicana Católica (essa seita que saiu do anglicanismo oficial), mas pela Igreja Anglicana ligada à Cantuária também.
 
 

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